História: Canil dos Mota
Mais de um século selecionando Foxhound Americano.
Para compreendermos melhor esta história, voltaremos ao século XIX mais precisamente no final deste. Nesta época os caçadores do Sul de Minas Gerais – Brasil caçavam com cães da raça Foxhound Inglês que foram introduzidos no país pelo Rei D. João VI e os nobres portugueses vindos da Europa para o Brasil, fugidos da invasão de Napoleão Bonaparte a Portugal.
No início do Séc. XIX a raça Foxhound Inglês era usada pela realeza em suas caçadas, especialmente por D. Pedro I e a princesa Leopoldina, grande admiradora das caçadas ao veado, espécie que se encontrava em abundância por todo Brasil. Caçava-se também com cães “Nacionais”, que eram cruzas de Greyhound conhecidos entre nós como Galgos, com cães comuns e outros com sangues Hound. Os Nacionais caçavam com os olhos e tinham um faro pouco apurado, mas muito velozes, pois as caçadas ao veado tinham a intenção de apenas localizar e matar a presa. Nessas caçadas se soltavam os cães no rastro dos veados, os quais naquela época existiam com muita fartura no Sul de Minas Gerais, sendo que os caçadores armados com suas espingardas tentavam matar o animal na corrida, as caçadas as vezes terminavam muito cedo, onde não havia uma perseguição que satisfizesse o caçador.
Na Itália o Italian Grayhound é conhecido como Nacional daí o nome ficou no Brasil, assim muitos caçadores pensam equivocadamente que é uma raça brasileira, pois se fosse deveria chamar-se cachorro brasileiro.
Aqui na região de Itamonte no início do século XX, essas caçadas eram realizadas pelos caçadores Zé Costa, Zé Motinha (Zé Costa era tio de Zé Motinha), e Zé Brasil que vinha a ser primo do José Motinha. Zé Motinha, meu tio bisavô, dizia que sempre o melhor cachorro de uma ninhada era o que nascia mais desajeitado, pois com o tempo ele se arrumava, o importante era ter raça (como na história do Patinho Feio). Esse mesmo caçador As vezes percorria 200 km a cavalo para caçar. Mas com a diminuição dos veados eles necessitavam mudar a maneira de caçar.
Os primeiros Foxhound Americano que chegaram a Itamonte foram conseguidos com a família Junqueira, especialmente com Eugênio Junqueira o maior caçador de onça do Brasil e seu inseparável amigo o mundialmente conhecido Sasha Sielmel, esses cães através dos anos foram selecionados e cruzados com diferentes cães Americanos, sendo adquiridos de outras regiões, e até mesmo alguns importados. Introduzir o Foxhound Americano no Sul de Minas Gerais foi tudo o que eles queriam. Eram cães de excelente latido e opinião na perseguição, além de um faro excepcional.
Com o passar dos anos, Zé Mota, sobrinho de José Motinha e filho de Custódio Mota, começou a caçar e conseguiu de seu tio, os cachorros: Palácio, Rochedo, Guará e Cassino, todos os filhos de Rapina e Faceiro e mais duas cadelas castanhas coleiras. Outros cães foram adquiridos com o passar do tempo, sempre selecionados por suas aptidões de caça, como Faceira, cadela que foi considerada por muitos caçadores a perfeição dentro da raça, vinda de Sr. Nonô Benfica de Boa Esperança – MG, Garoa cadela importada de António de Lourenço de Passa Quatro – MG, essa cadela tinha como característica sua grande velocidade, trouxe ainda: Bagunça de José Bento Junqueira (Bentinho) da Fazenda dos Lobos de Cruzília, e Oceano de José Augusto Junqueira de Carmo de Minas-MG, cachorro que numa perseguição ao veado conseguia dar quatorze urros seguidos em grande velocidade conforme gravação em nossos arquivos, José Mota cruzou Bagunça e Oceano e obteve desse cruzamento, Disparada, que em sua época foi a melhor.
Vieram de Paulo Ferreira da cidade de Areias-SP, as cadelas Andorinha, Lua e Cigana além do cão Batuque. Da cidade de Virginia-MG, os famosos cachorros Sertão e Judeu, filhos de Ganso, cachorro importado de propriedade de José Paiva. Sertão foi cruzado com Brasa e deixou filhos como Faceiro, Talita, Inglesa, Medusa. De Paraibuna-SP, vieram de Roberto Camargo, Â os cachorros: Goiano, Marquesa, Caiçara, Cachoeira e Tribuna todos irmãos filhos de cachorro importado. Vieram também de Pedro Mota (irmão de José Mota) que morava em Paraibuna, alguns cachorros. Lembrado, outro excelente cão veio do Paraná. José Mota caçou por todo o Brasil conhecendo e observando sempre os melhores Foxhound Americano e onde era encontrado um cachorro excepcional o adquiria.
Todos esses cães foram cruzados, sendo que os melhores foram selecionados, conseguindo assim os maiorais cães Foxhound Americano.
Um grande admirador das caçadas foi o Presidente Getúlio Vargas, vindo caçar no Sul de Minas Gerais, para essas caçadas sempre vieram caçadores de toda região sendo que em uma dessas Getúlio Vargas escolheu o cavalo que mais lhe agradou (a égua tordilha da raça Manga larga Marchador que montava José Mota).
Neste dia a cachorrada Foxhound Americano de José Mota se destacou trilhando e perseguindo um veado, como o Presidente Getúlio nunca tinha visto. Outra particularidade desta caçada foi quando Getúlio Vargas perguntou a um peão que estava nos arredores da fazenda o que ele achava do seu governo e ele na sua sinceridade disse: “O Sr é bom caçador, mas caça com uma “catrevagem” tão ruim. (catrevagem na gíria de caçador é cachorro ruim). Getúlio apenas riu, demonstrando ter concordado com a crítica a seus auxiliares políticos.
Mas, com o passar dos anos o cachorro Foxhound Americano praticamente se extinguiu no Brasil, restando apenas cães que tinham uma única semelhança com um verdadeiro Foxhound Americano, o urro, a maioria dos caçadores não se importam em conseguir cães de plantéis diferentes tornando o Foxhound Americano muito consangüíneo, criando “Americanos” lentos (não confunda linhagens de Foxhound francês com Foxhound Americano, são cães que também urram, porém lentos) e com muitos defeitos, com isso os caçadores desanimaram e deram preferência ao Foxhound Inglês, um cão geneticamente e especificamente feito para caça à raposa e não ao veado e outros bichos de caça maior, onde é exigido inteligência, velocidade e faro apuradíssimo. O Foxhound Inglês foi introduzido novamente por aqui por volta de 1960, conhecido entre a maioria dos caçadores como “Portugueses”, pois chegaram ao Brasil vindos de Portugal.
Nós fizemos o caminho contrário, cruzamos cães de linhagem diferentes sempre preservando as características do verdadeiro Foxhound Americano, que se adaptassem as Terras Altas da Mantiqueira, uma região muito montanhosa e com dificuldades naturais enormes para os cães, sempre exigindo um cão realmente de características superiores.
Com o falecimento de José Mota em 1984, seu neto José Custódio Mota deu prosseguimento a esta raça, procurando sempre selecionar e produzir os melhores cães Foxhound Americano, onde a resistência, faro apurado, velocidade, inteligência e excelente latido fossem suas características principais.
Nessa busca por um excelente Foxhound Americano José Mota contou com a colaboração de inúmeros amigos e caçadores que mostraremos na página dos grandes caçadores que fazem parte da cultura do Brasil, para que isto não seja esquecido por nossa geração nem pelas futuras.
Há mais de um século a família Mota seleciona e aprimora o Foxhound Americano.
Hoje o Canil dos Mota conta com cães de linhagem que realmente se destacam e mantém as características do verdadeiro Foxhound Americano, onde a pureza e a qualidade está sobretudo no sangue que carregam, sangue “Dos Mota”.
Canil dos Mota